Dia
19 de abril - Dia do Índio Quem são,
de onde vieram, para onde vão?
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séculos depois do primeiro encontro, os índios brasileiros permanecem
sendo um mistério para o homem branco. Não se pode afirmar com certeza
de onde vieram, embora a teoria da migração via estreito de Bering
continue sendo a mais provável - mesmo tendo perdido a primazia e, principalmente,
a exclusividade. Quando teriam chegado à América também é
assunto ainda polêmico: 12 mil, 38 mil ou a 53 mil anos atrás? Ninguém
sabe ao certo. Sabe-se apenas que aqui estavam. |
De qualquer forma, sua simples presença já era um enigma. Quem
seriam aqueles homens "nus, pardos, de bons narizes e bons corpos",
que negros não eram, nem mouros, nem hindus? Descenderiam de qual das dez
tribos de Israel? Ou de qual dos três filhos de Noé? Teriam alma?
Em caso afirmativo, como poderiam ter vivido tanto tempo à margem de Deus?
Cristóvão Colombo decidira chamá-los de índios
- mas índios os portugueses sabiam que não eram. O que seriam então
esses "negros da terra"? Bons selvagens, como sugeriu Pero Vaz de Caminha
(e os filósofos Rosseau, Montaigne e Diderot ecoaram), ou antropófagos
bestiais, como quiseram outros cronistas? Defini-los de que forma se alguns eram
brutais e intratáveis, como os aimorés - que comiam carne humana
"por mantimento e não por vingança ou pela antiguidade de seus
ódios" -, e outros tão mansos e pacíficos, como os carijós,
"o melhor gentio da costa"? | | |
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Passados 500 anos de convivência sempre conflituada,
o índio continua sendo pouco mais do que um mito brasileiro. Afinal, são
defensores da ecologia, como o caiapó Paulinho Paiakan? São pessimistas
incuráveis, que se suicidam por puro desespero, como os guaranis-caiovás,
ou empresarios bem-sucedidos, como os caiapós? Podem ser três, como
os xetás, ou 23 mil, como os ticunas. Para onde vão? A resposta
não depende deles. A história
brasileira não registra um único herói indígena -
nem aqueles que ajudaram os portugueses a conquistar a terra, como Tibiriça,
que salvou São Paulo; Araribóia, que venceu os franceses, ou Felipe
Camarão, que bateu os holandeses. Não há um só atleta
ou escritor nativo. Houve um político indígena, o cacique Mário
Juruna - mas ele foi abandonado em Brasília. Raoni é um herói
- mas não no Brasil. É um herói de Sting, o popstar cheio
de boas intenções e má consciência. Raoni se tornou
só uma mensagem. Uma imagem tão incongruente quanto a do quadro
O Último Tamoio. Nenhum jesuíta jamais chorou a morte do último
tamoio, que eram aliados dos franceses e foram traídos pelos padres. Haverá
alguém para chorar pelo último ianomâmi? |
O chefe da tribo Os
índios vivem em aldeias e, muitas vezes, são comandados por chefes,
que são chamados de cacique, tuxánas ou morubixabas. A transmissão
da chefia pode ser hereditária (de pai para filho) ou não. Os chefes
devem conduzir a aldeia nas mudanças, na guerra, devem manter a tradição,
determinar as atividades diárias e responsabilizar-se pelo contato com
outras aldeias ou com os civilizados. Muitas vezes ele é assessorado por
um conselho de homens que o auxiliam em suas decisões. | | |
Alimentos, Cultura, Mitos, Ritos e Arte
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Além de um conhecimento profundo da vida e dos
hábitos dos animais, os índios possuem técnicas que variam
de povo para povo. Na pesca, é comum o uso de substâncias vegetais
(tingui e timbó, entre outras) que intoxicam e atordoam os peixes, tornando-os
presas mais fáceis. Há também armadilhas para pesca, como
o pari dos teneteharas - um cesto fundo com uma abertura pela qual o peixe entra
atrás da isca, mas não consegue sair. A maioria dos índios
no Brasil pratica agricultura. O esforço
das autoridades para manter a diversidade cultural entre os índios pode
evitar o desaparecimento de muita coisa interessante. Um quarto de todas as drogas
prescritas pela medicina ocidental vem das plantas das florestas, e três
quartos foram colhidos a partir de informações de povos indígenas.
| Na
área da educação, a língua tucana, apesar do pequeno
número de palavras, é comparada por lingüistas como a língua
grega, por sua riqueza estrutural - possui, por exemplo, doze formas diferentes
de conjugar o verbo no passado. No Brasil, muitas
tribos praticam ritos de passagem, que marcam a passagem de um grupo ou indivíduo
de uma situação para outra. Estes ritos se ligam a gestação
e ao nascimento, à iniciação na vida adulta, ao casamento,
à morte e a outras situações. Poucos povos acreditam
na existência de um ser superior (supremo), a maior parte acredita em heróis
místicos, muitas vezes em dois gêmeos, responsáveis pela criação
de animais, plantas e costumes. | | |
| | A
arte se mistura a vida cotidiana. A pintura corporal, por exemplo, é um
meio de distinguir os grupos em que uma sociedade indígena se divide, como
pode ser utilizada como enfeite. A tinta vermelha é extraída do
urucum e a azul, quase negro, do jenipapo. Para a cor branca, os índios
utilizam o calcário. Os trabalhos feitos com penas e plumas de pássaros
constituem a arte plumária indígena. Alguns índios realizam
trabalhos em madeira. A pintura e o desenho indígena estão sempre
ligados à cerâmica e à cestaria. Os cestos são comuns
em todas as tribos, variando a forma e o tipo de palha de que são feitos.
Geralmente, os índios associam a música instrumental ao canto e
à dança. | |